sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Tese de mestrado na USP por Fernando Braga

TESE DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO
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> 'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'
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> 'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'
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> Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da
> 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas
> enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado
> sob esse critério, vira mera sombra social.
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> Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
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> O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou
> oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,
> constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
> invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu
> comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma
> percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
> social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
> Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de
> R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição
> de sua vida:
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> 'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode
> significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o
> pesquisador.
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> O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não
> como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP
> passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,
> esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me
> ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',
> diz.
> No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma
> garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha
> caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra
> classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns
> se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo
> pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e
> serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num
> grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei
> o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
> claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de
> refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem
> barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada,
> parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
> 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.
> Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar
> comigo, a contar piada, brincar.
>
> O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
> Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí
> eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo
> andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
> biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei
> em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse
> trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O
> meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
> cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,
> não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
>
> E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
> Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a
> situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se
> aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar
> por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse
> passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
>
> E quando você volta para casa, para seu mundo real?
> Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está
> inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito
> que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses
> homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa
> deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
> Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são
> tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo
> nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
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> *Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!
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> Respeito: passe adiante !
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